![]() MariposasJá é noite, choveu à tarde, o asfalto molhado da avenida reflete as luzes vermelhas das lanternas dos carros. A luz dissipa pelo chão como vapor, desenha figuras obtusas em círculos concêntricos que se espalham rudemente. O rumor produzido pela borracha dos pneus é inconfundível, imprime uma velocidade própria à noite. Gente passa de todas as formas, as calçadas alongadas abrigam rostos ocultos em histórias jamais contadas, contos jamais ouvidos. Angústia e opressão reverberam nos becos escuros . Pessoas vêm e passam pelas calçadas enquanto notas musicais dissonantes ecoam dos bares, onde seres embriagados procuram por diversão e amor a baixo custo. Nessas noites, boêmios são como mariposas que rodopiam ao redor de lamparinas e desaparecem com a luz do dia. Os postes estáticos perfilados nas avenidas protagonizam uma dança torpe, em meio a uma profusão de fios estendidos como varais. Nas vielas e becos sombrios o medo domina mentes e corpos, onde seres obscuros esgueiram-se pelas sombras. Das luminárias a luz artificial que propaga pelo espaço imita vaga-lumes, enquanto as esquinas com seus ângulos retos ponteiam as encruzilhadas. Pelas calçadas encardidas o amor a baixo custo é barganhado. Por ali pessoas são mercadoria, são como produtos em prateleiras que se alongam pelos corredores da cidade. Os que passam, os que vêm e passam, têm um único rosto. As sirenes das ambulâncias e viaturas de polícia, emitem sons que provocam angústia aos que observam a noite das janelas dos apartamentos. Lá embaixo, em meio a madrugada, pelas ruas os passos apressados são passos de quem tem medo, de quem percorre o espaço como mariposa à procura de um naco de luz. Quem são os seres da noite? Seriam criaturas de faro aguçado à procura de becos escuros? Na porta dos bares que decoram as calçadas, bêbados, larápios, rufiões e prostitutas, são personagens que exalam o perfume ácido da noite e compõem o cenário caótico (...).
Gladyston Costa Ton Costa
Enviado por Ton Costa em 12/06/2018
Alterado em 06/06/2025 Comentários
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