voo de palavras

Infinita poesia

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Principia a primavera
Mais uma vez, a parábola desenhada no espaço, pela terra, traz o início de uma nova estação, setembro avança, é quase fim de inverno. A nova estação, a primavera, vem chegando lenta e com a suavidade costumeira, lá fora uma chuva fina desmancha a secura do ar. Nesta manhã de domingo o silêncio é quebrado pelo ronco distante dos trovões e pelo chiado das águas que alcançam o chão. Contrariando a estridente metrópole, a manhã é silenciosa e o barulho das águas é um mantra que abraça o corpo e o leva a lugares distantes. Em um minuto já se está longe... As paredes retilíneas dos prédios são trocadas pela silhueta dos morros que cercam o vale profundo, decorado por densa mata verde, flores de manacá e ipês se espalham pelas encostas e colorem a paisagem. O cheiro de terra molhada se mistura ao perfume das flores do lírio do brejo. A floresta está em concerto, no ar o som das águas, das folhas nos galhos em balanço, dos pios e dos assovios dos pássaros que se abrigam na densa vegetação, perfeita harmonia. As águas escorrem desde o alto da serra até o fundo do vale, ganham o leito do rio de águas claras e seguem seu curso natural. Com a mudança de estação, a primavera retorna trazendo o frescor das águas da chuva e um novo ciclo de vida. O colorido das flores lá fora, os sabiás laranjeira, sanhaços e toda sorte de passarinhos construindo ninhos, dão à estação uma magia peculiar. Da janela aberta no quarto, a visão das gotas d’água que caem do telhado, traduz o movimento cíclico das coisas do mundo. Assim como a terra se movimenta para alcançar, a cada período, uma nova estação, as águas, após longa viagem, chegam trazendo a certeza da renovação. Em tempos de medo e de estupidez, onde a ganância de homens incautos queima florestas e fere de morte a existência, perceber a natureza cíclica do universo é um alento. A natureza, alheia à fé ou à razão do homem, pertence a ela própria, nascimento, vida e transformação sem fim! Intangível à compreensão. O mundo gira em movimentos de translação e rotação, o tempo é em essência esse movimento, a estação que principia em chegar, definitivamente, marca um novo tempo. A metrópole com seu mar de prédios, ruas e avenidas, para além da janela do quarto, está mergulhada em um incerto silêncio nesta manhã. A primavera se aproxima, é tempo de reencontro e contemplação.



Gladyston Costa
Enviado por Gladyston Costa em 05/09/2019


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