A morte da velha rica
Dormiu viva e logo cedo acordou morta
No aposento de mobília em entalhe madeira nobre de angelim, mogno, ipê todo esse ouro não lhe tardou a despedida O criado mudo na mesma anatomia com linhas tortas a acusar as heresias O espelho oval a refletir a solidão de um rosto pálido enfiado no caixão O corpo inerte, todo frio e desalmado Jaz e já foi rico abastado Largou a vida, pois morreu morte morrida viva, vivia avarenta mesquinharia Tanto pecado contado em moeda pago em novena e em muito terço rezado Sua alma parte e não leva um vintém Sem porta-malas o caixão segue além Alma de rico encomendada na medida na lage fria de esmeralda bem polida só vai ao céu pelo buraco da agulha ter com mendigos, toda sorte de sem teto Roupa elegante de seda e caxemira contas de ouro, pedra cara, prataria tanto requinte já não lhe mais tem serventia pra onde vais o eu saldo não tem valia Velha abonada é chegada a sua hora! findo o jogo, sopra o juiz o final Esquece tudo, sai de campo e sem demora Já é fim de dia, hora da ave maria.
Gladyston Costa
Enviado por Gladyston Costa em 13/04/2020
Alterado em 07/08/2020 |