Bem vindo à cidade
Então é assim, em certo dia de verão depois de longa espera vejo minha vida refletir no espelho de um par de olhos negros. Já era meia noite e havia silêncio por entre aquelas paredes, eu andava pelos longos e desertos corredores tendo a ansiedade como companhia. Expectativa e medo, o novo sempre vem nessa embalagem.
Geralmente é assim, a novidade que se aproxima é cheia de energia e preenche a alma com sensações conflitantes. Já percorri uma longa distância até aqui, parece que a vida não é tão curta como reclama o senso comum, cada segundo de lembranças traz um filme sem fim. Há tempos, quando era criança, percebi que o cadarço não desamarrava se eu desse dois nós, mas depois tive que aprender como desmanchar aquele nó. A vida é realmente assim, experiência e aprendizado. O novo, o desconhecido, é realmente cheio de expectativa e medo, e aqui está a beleza da vida. Sim, já era passada a meia noite daquele dia de verão, final de janeiro. Lá fora uma forte chuva lavava a atmosfera e pela janela da sala de espera as luzes da cidade cintilavam. Sampa iluminada como sempre, pelas ruas e avenidas carros indo e vindo até perder de vista. Do nono andar na esquina da Borges lagoa com a Ibirapuera a urbanidade liquida e concreta se exuberava implacida. Há dezenas de metros, ao norte, satisfaction inundava os ouvidos da metrópole com os acordes dos Stones. As coisas da vida na cidade realmente são assim, a energia da metrópole reverbera estridente em seus imensos favos de concreto envidraçados. O espaço é preenchido por um labirinto cheio de esquinas pontiagudas e becos obscuros. A cidade tem vida própria e absorve qualquer existência individual. A multidão tem um único rosto, mas na madrugada a solidão vem à tona e o pensamento resgata a historia individual de cada um. A vida é real e tem seu percurso, seu enredo e script. Como é tão comum nascer e viver ! Os primeiros passos, a primeira lancheira, o primeiro beijo, as primeiras contas a pagar. Momentos recheados de ternura e esperança, mas também repleto de medos, dores e perdas. Viver intensamente, a historia da vida é intransferível e é o que há pra ser feito, pois viver é isso. Então, às vezes nos olhamos como espectadores de nós mesmos e aplaudimos ou vaiamos o nosso show particular (...) mas sempre queremos mais. Geração após geração nós repetimos os passos dos nossos pais numa ou em outra direção, mas damos continuidade a uma história que começou há tempos. Após uma longa espera, repleta de expectativas, você passou pela sala de espera, olhou nos meus olhos e eu me vi neles.
Gladyston Costa
Enviado por Gladyston Costa em 13/08/2020
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