Há um mendigo na lixeira
No meio da praça central um rato saiu do buraco.
Correu pela calçada e entrou na lixeira. Encontrou um homem!! No centro velho, as calçadas são o leito de um mosaico social onde a loucura, drogas e álcool fazem coro com a cruel e imoral concentração de renda. Cacos de vida são fragmentos de um todo cujas peças não encontram par, a solidão é onde repousa cada olhar. Pela região central rostos anônimos são rostos sem gente. Nos primeiros tijolos da pirâmide socioeconômica, onde as raízes tocam o solo, pessoas se escondem por traz de caixas de papelão, jornais e trapos. Vê-se embaixo das marquises e fachadas de diversas matizes arquitetônicas, dia e noite, desalentados se abrigarem. O dinheiro, se concentrado, não serve para resolver tal equação. É necessário encurtar a distância entre o luxo e o lixo. Da Praça Patriarca à Rua 15 de novembro, a Rua Direita sintetiza com louvor a mazela social. Do inicio ao fim, lojas de departamento, bancos de dinheiro e semblantes carregados de pressa, o capital tem hora marcada. Pelo caminho o odor ácido de ureia carcome das narinas a mucosa. Os sem teto que ali habitam dormem no chão de pedra portuguesa, sem quarto, sem sala e sem banheiro. O odor só não é mais corrosivo que a indiferença com que a vida lhes trata. Por ali... Da praça, um rato saiu do buraco. Correu pela calçada, entrou na lixeira. Dentro, um homem. Um Homo mendicus. Na praça, À margem, Um marginal. Ele fuça na lixeira. Tira nacos e mastiga. Come do lixo a sociedade. Gladyston Costa
Gladyston Costa
Enviado por Gladyston Costa em 23/03/2021
Alterado em 23/03/2021 |