voo de palavras

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O carcará e a antena
Já não é de hoje que as torres com antena de celular pipocam pela cidade, virou mesmo febre o uso desses aparelhos portáteis de comunicação e interação social, o celular, bem vindo à pós-modernidade. Bem vindo ao encolhimento do espaço e tempo que no passado só era admitido em ficção cientifica.

Outro dia vinha caminhando pela calçada da radial leste e reparei uma dessas torres, estrutura de ferro armado apontando para o céu, sem graça e tão pouco elegância. Estrutura piramidal de base pouco larga que lembra um foguete desses que vão para a lua.

O céu muito claro, de azul constante, daquele dia, anunciava que o outono caminhava a passos apressados rumo ao inverno.

Mas, o que premiou o cenário formado por céu claro e ferro armado, foi o voo em velocidade que um par de carcarás executava ao redor da torre. Certamente um casal, provavelmente havia um ninho desses falconídeos no alto da antena. De tempos para cá tem sido cada vez mais comum observar essas belas aves pela cidade, nas praças, alto dos prédios ou voando mesmo.

Já os vi caçando ratos, pombos ou comendo restos em lixeiras, mas voltemos à imagem do voo pela antena.

A mente é uma coisa sensacional, o pensamento também voa e se desloca tão veloz quanto esses belos falconídeos. Assim, súbito me vi menino olhando para o céu em um lugar muito distante no passado, em um quintal cheio de pés de frutas e uma horta bem ajeitada. Passarinhos cantando nas árvores, galinhas ciscando e cheiro de terra molhada.

Casa da avó em Itatiaia no interior do Rio de Janeiro.

Como era interessante observar as galinhas com pintinho procurando algum petisco pelo chão! ... No fundo daquele quintal, uma bela carijó guiava os seus filhotes para encherem o papo.  Muito nervosa e agitada, é assim que ficam quando estão com pintinhos, os protegia com unhas e bicadas. A sombra de um carcará, plainado no alto, girava pelo quintal e deixava a mamãe galinha ainda mais agitada. Faminto, o carcará mirava as crias daquela galinha e de repende executou um mergulho certeiro, a mamãe rapidamente abriu as asas e recolheu os rebentos para a segurança em baixo delas.

Ufa!...Todos salvos e depois do susto, todos ciscando novamente a terra.

Não importa o tempo e a paisagem, esses bichos livres voando pelo céu sempre trazem essa sensação bucólica de pertencimento a um mundo mais verde e natural. É acalentador saber que ainda existe muito mato por ai onde esses bichos possam continuar existindo.

Por mais que o tempo passe e que antenas de ferro ocupem a paisagem, como o carcará sejamos sempre bichos.

Gladyston Costa
Enviado por Gladyston Costa em 16/04/2021
Alterado em 16/04/2021


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